Tuesday, December 27, 2016

Au Pairs, crônica sobre uma infância feliz.

Primeiro, quando meus pais faziam faculdade, era uma moça ainda adolescente. Era eles saírem e ela pegava o telefone para passar trote em algum felizardo. Tinha uma linha de disk amizade, algo assim, na qual se podia falar com qualquer um que estivesse “online”. Acho que deu sujeira, vinha uma conta cara, não lembro mais direito. Daí ela começou a ligar a esmo e passar cantadas vagabundas em qualquer trouxa que acreditasse. A cara de pau marcava encontros nos quais não ia e nem pretendia. O dia mais massa foi quando ela conseguiu convencer um fulano de que ela era rica. Ela pediu para eu e meus irmãos pegarmos um balde e o enchermos d’água. Feito isso, ela espalmava a mão n’água e falava que estava mergulhando na piscina. Morríamos de rir. Essa aí não durou muito, era muito desajuizada. Consta que casou com um fazendeiro rico, quando perguntei dela, muitos anos atrás. Deve ter uma piscina de verdade agora.
Depois foi uma moça muito gente fina e mais inteligente. Creio que posso citar o nome dela: Fátima. Dela infelizmente não sei mais nada. Ela esperava um pouco para meus pais saírem para a aula. Telefone nos anos oitenta era algo muito sério, do qual ela mantinha distância. Assim que estava limpo, íamos todos para a rua. Ela sentava na porta do prédio e ficava trocando ideia com as minhas vizinhas que já eram adolescentes. Suponho que sobre garotos, nunca prestei atenção às conversas. Minha rua virava uma bagunça danada. Das sete e pouco da noite até as dez era lotada de criança zoando no talo. Não sei como nenhum vizinho não nos dedurou a nossos pais. Acho que ali, na rua Platina da minha infância, todo mundo mais velho era como sou agora com relação à molecada do meu bairro: se há crianças implodindo a rua à noite de tanto brincar, é porque posso dormir sossegado, pois estou num lugar muito seguro.

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